quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Ilha



Parece algo como aquele filme, A Ilha. Alguém nos diz que devemos estudar muito (mesmo que depois não lembremos nem da metade daqueles assuntos tão legais...), para então podermos entrar na faculdade e estudar mais ainda (mesmo que depois não lembremos daqueles assuntos ainda mais legais...). E então conseguir um bom emprego para passar umas 10 horas por dia, para então trocar por um emprego melhor, com salário melhor, para passar pelo menos 10 horas por dia, indefinidamente, por 30 anos ou mais. Ganhando cada vez mais, mesmo sem tempo nem motivo para gastar, já que ninguém nos disse o que realmente nos fará feliz... Mas eles nos disseram que precisamos disso para comprar um carro enorme (sem nos importarmos com o trânsito caótico), para comprarmos uma TV de 117 polegadas (pois é um ótimo quadro para se por na parede, já que não teremos tempo de ligá-la, graças a Deus!)...

E continuam nos dizendo uma pá de coisas: dicas para ser chefe, dicas para ser empresário, como se comportar em entrevistas, o que vestir quando for comer um cachorro-quente...

E ouvimos tudo atentamente... e tentamos seguir esses maravilhosos conselhos... por quê? Pelo mesmo motivo que ocorre no filme: não temos mais nenhum parâmetro de comparação. Mas o mundo um dia irá se perguntar o que realmente tem valor na vida, o que realmente deve-se estudar, em que seria melhor trabalhar... alguns já se perguntam...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Noite e dia

Há uma certa ambiguidade na vida. Não somos culpados por ela, mas sofremos suas consequências. O dia tem a noite, o amor cresce junto com o ódio, a saúde termina na doença, o inverno sempre espera pelo verão e, quando este chega, o inverno se vai... e o verão espera um novo inverno. Há uma paridade intrigante, onde é impossível se determinar o começo, ou o fim.
Às vezes nos vemos frete a uma bifurcação no caminho que trilhamos. Nos vemos obrigados a fazer uma escolha, porém, não há placas indicando onde vamos parar. Mesmo se houvesse tais placas, você saberia me dizer para onde gostaria de ir? Aí começa a noite para muitas pessoas: a total penumbra não permite localizar a saída, nem mesmo saber da sua existência, talvez...
A escuridão muitas vezes não está do lado de fora. A escuridão nasce nas entranhas e leva o indivíduo à cegueira total rapidamente. Mas há diagnósticos simples. As escolhas tornam-se visivelmente tendenciosas e o pobre indivíduo passa a perseguir o dia, sem perceber que para alcança-lo bastaria ficar parado. E, nessa perseguição, ele se torna prisioneiro da noite. E, como a noite, suas escolhas tonam-se negras, sombrias e frias. E, se por fim o dia alcançá-lo, ele lhe fechará os olhos e se incomodará com a luz.
Negação da luz
Por tanto tempo imersos no breu da noite, alguns esquecem das belezas do dia. Deixam mesmo de acreditar nesse milagre. Para estas pessoas, não existe "Bom dia!", "Me desculpe", "Perdão", Parabéns", etc., pois estas frases não combinam com o umbigo delas próprias, lugar este que não se cansam de olhar. O mau humor torna-se um ditador saguinário de suas vidas, perseguindo qualquer pensamento que seja bom. Desconhecem o significado da palavra "bem", e sem este conceito, não adimitem nem por um segundo estarem erradas. Não é a Terra que gira em torno do Sol, mas o universo que gira em torno delas.
Medo da luz
Considero este o Mal do Século. Por medo, deixamos as luzes apagadas e preferimos o silêncio fúnebre da noite à uma crítica verdadeira. Muitas pessoas padecem deste sofrimento. Conhecemos o dia e seu poder, podemos vislumbrar horizontes magníficos, cores alucinantes, o desabrochar da vida em todo seu explendor, mas, por medo, apagamos as luzes e hibernamos num sono desprovido de sonhos. Conhecemos o sentido de palavras como educação, caridade, carinho, mas não compreendemos nada disso. Aliás, falta-nos compreensão. E por medo deste calor que se emana sabe-se lá de onde, enfiamos uns óculos escuros nas vistas e voltamosa viver egoisticamente nossa noite. O homem não teme o que não conhece, na verdade... mas sim o que não compreende. Há uma diferença singela entre conhecimento e compreensão.
Deslumbrados
Após séculos e séculos de pavor, solidão e frio, o medo é vencido, as janelas são abertas, enchendo nossos pulmões de ar puro matutino. É um momento de imensa alegria, que por ventura durará pouco. O Sol faz evaporar as gotas de orvalho, condensadas durante a noite, lembrando lágrimas doces de uma dor prolongada. A luz, que no raiar do dia ofuscava, permite-nos pousar nossos olhos pelos milagres da vida. A luz da compreensão. O calor do amor. Neste pequeno momento, o paciente esquece da dor causada pela broca do dentista, lembrando-se apenas do sabor da marmelada. A dor foi curada e, apenas por este breve momento, sua causa foi esquecida.
Esclarecidos
O saber nos traz obrigações. Já que é sabido a proveniência do fogo assim como sua função e seu manejo, dever-se-á usá-lo corretamente, combatendo o inverno dos corações e iluminando a penumbra dos porões. E durante os poucos minutos livre, não se esquecer de contemplar a obra divina. As bifurcações continuam a aparecer, mas as escolhas já não são feitas de forma aleatória. Há um motivo, há um objetivo. Sabe-se que em todos os caminhos pedras rolarão, víboras cruzarão... Estás preparado para percorrê-los e com alegria o fará. Já faz parte do dia e da noite e consegue dintinguir tais eventos sem margem de erro. Trabalha muito para iluminar, mesmo que por vezes sinta-se incopetente. Tem fé no trabalho realizado e pena daqueles que se matam para permanecer na escuridão.
Iluminados
Com palavras que mais parecem favas de mel, são verdadeiros oasis de amor no deserto de sentimentos que cresce sobre a Terra. Compreendem perfeitamente como a água brota pura das pedras, corre pelas montanhas carregando todos os tipos de detritos, deposita-os no mar, como uma oferenda à Netuno por remissão de todo o estrago causado durante a viagem e, de lá, sobe aos céus para que em um abraço fraternal de todas as gotículas possa voltar a Terra em uma nova missão de vida. Tais são especiais estes seres que uma simples chuva lhes é um grande milagre e são tantos milagres que toda a vida, com suas noites e dias, invernos e verões, só pode-lhes ser uma benção.
Confuso? Paciência... Paz e Ciência!